sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Rachel chamou o vento com Caymi, Marcelo contemplou Rainer Rilke e Noel foi com Jacaré para a festa no Céu


Vai chegando o fim do ano e Jacaré, meio que cansado, sai a publicar colaborações oriundas da Nação Jacarense:



Dona do Raio: O Vento

Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento

"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no rolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas,
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem justa
Para quem vive e canta no mau tempo"

O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia




A minha voz é o vento de maio
Cruzando os ares, os mares, o chão
Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração

Eu não conheço rajada de vento mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro, vira um corisco esse meu coração
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã, desde o meu nascimento, tornou-se a dona do meu coração

Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Oyá de mim.



O Homem que Contempla

Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.

Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.




Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.

Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira




Festa por festa com anjo, raio e vento, Noel Rosa organizou logo uma festa lá no céu

O leão ia casa
Com sua noiva leoa,
E São Pedro, pra agrada,
Preparou uma festa boa.
Mandou logo um telegrama
Convidando o bicho macho
Que levasse todas dama
Que existisse cá por baixo.
Pois tinha uma bela mesa
E um piano no salão.
Findo o baile, por surpresa,
No banquete do leão
Os bicho todo avisado
Tavam esperando o dia
Tudo tava preparado
Pra entra enfim na orgia.
E no tal dia marcado
Os bicho tomaram banho
Foram pro céu alinhado
Tudo em ordem por tamanho.
O mosquito entrou na sala
Com um charuto na boca;
Percevejo de bengala,
E a barata entrou de toca
Zunindo qual uma seta,
Foi o pingüim do Pólo;
O peixe de bicicleta
Como o tamanduá no colo;
O siri chegou atrasado
No bico de um passarinho,
Pois muito tinha custado
Pra bota seu colarinho.
E o gato foi de luva
Pra assisti o casório;


Jacaré de guarda-chuva
E a cobra de suspensório,
O porco de terno branco
Com um sapato de sola;
E o tigre de tamanco
De casaco e de cartola.
De lacinho à borboleta
Foi o cabrito faceiro;
E o burro de luneta
Montado num carroceiro;
O macaco com a macaca
Com rouge pelo focinho;
Estava engraçada a vaca
De porta-seio e corpinho.
Vou breviá o discurso
Pra não dizê tanto nome:
Lá foi a mulhê do urso
De cabeleira A la home;
Quando o leão foi entrando,
São Pedro muito se riu
E pro bicho foi gritando:
Caiu 1º de abril. "

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