Jacaré hoje não canta: chora com poeisa, imagens e sons
da triste lembranca que a humanidade tem da data de 9 de agosto de 1945
65º aniversário do bombardeio atômico da cidade por parte dos Estados Unidos.
para não esquecer e não permitir jamais: Nagasaki Archive
A rosa de Hiroshyma
Vinícius de Moraes
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada
Depois de ouvirmos a interpretação de Ney Matogrosso fica a obra de arte
A obra acima é de autoria de Francisco Rangel
A amiga,lá de Petrolina, contribui com uma poesia maravilhosa. Obrigado, Elisabet
Sexta-poesia na esteira de um jacaré atormentado
EXPLOSÕES
Murilo Mendes
A ode explode. O bode explode.
O Etna explode. O erre explode.
A mina explode. A mitra explode.
Tudo agora e amanhã explode.
Exceto a Bomba: o homem não pode.
O homem não pode. O homem não pode. O homem não pode
O homem pode:
Soltar a vida. Fuzilar a Bomba. Reinventar a ode.
Sobre Murilo Mendes, leia a revista ZUNÀI
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O amigo Carlinhos Cecconi, de São Paulo, vem com Drummond nos convidar para não esquecer e não permitir jamais: Nagasaki Archive
Estima-se que 74 mil pessoas morreram com a Bomba de Nagasaki, há 65 anos, nesse mesmo 9 de agosto, três dias depois da Bomba de Hiroshima. A de Hiroshima foi pior: estima-se em 140 mil pessoas.
A BOMBA
Carlos Drummond de Andrade
A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos
interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose,
de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro,
cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboreia a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos
de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger
velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação
em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba
o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.
--
beijos n'alma!
na luta e na luz!
Carlinhos Cecconi
olacarlinhos@terra.com.br
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Tânia Cabral, do Tocantins, nos traz Fernando Pessoa:
"A Guerra"
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como todo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por conseqüência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer cousas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química direta da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as cousas pré-humanas, mesmo no homem!
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Alberto Caeiro
Uma excelente semana para todos!
Tânia
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João Guerreiro, diretor do Jacaré, mostra que dia nove aconteceu de novo em 1997 com a perda pela AIDS do querido Betinho:
Uma homenagem na voz/interpretação de Elis:
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco
Louco, o bêbado com chapéu coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar
João Bosco/Aldir Blanc
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
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Desculpem, mas não seria 06 de agosto de 1945?
ResponderExcluirAbs.
Leila Sales
Leila
ResponderExcluirO terror teve Hiroshima em 6 de agosto e Nagasaki em 9 de agosto de 1945.
A cidade japonesa de Nagasaki, no Japão, lembrou nesta segunda-feira, 9 de agosto, os 65 anos do ataque nuclear promovido pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Um número recorde de 32 países participaram da cerimônia. Os esforços pelo desarmamento nuclear marcaram o clima do evento.
Embora nações como França e Grã-Bretanha tenham comparecido à cerimônia, não houve participação de um representante norte-americano. O embaixador dos Estados Unidos no país, que havia marcado presença no evento de Hiroshima, na última sexta-feira, alegou conflitos de agenda.
A explosão atômica de Nagasaki foi a segunda da história e ocorreu três dias após o ataque a Hiroshima. Aproximadamente 80 mil pessoas morreram em Nagasaki, e outras 140 mil em Hiroshima. Os ataques deram um ponto final ao conflito mundial em 1945.
Um abraço
Sergio Rosa
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Mundo&newsID=a2999346.xml
Sérgio, obrigada pela correção. Li muito rapidamente o post e não atentei para o fato de estar se referindo à Nagasaki, não à Hiroshima.
ResponderExcluirBom seria se todos estivéssemos enganados e nenhuma dessas tragédias realmente ocorrido.
Abraço fraterno.
Leila Sales