No Jacaré tem quem trabalha a alquimia. E quem sabe a
Pedra Filosofal não está no carnaval!
Eis a pedra, de humilde aparência.
No que concerne ao valor, pouco vale -
Desprezam-na os tolos
E por isso mais a amam os que sabem.

Arnaud de Villeneuve - sec XII
No Jacaré tem a Leila que de Baudelaire vai a uma outra pedra de pérola:
Eu estava lendo esse poema lindo de Baudelaire agora, e fiquei contagiada pela mosca da poesia, então lembrei de uma música do
Zé Miquel Wisnik que se chama "Pérolas aos Poucos",tem um pedacinho que diz:
Eu jogo pérolas aos poucos, ao mar,
Eu quero ver as ondas se quebrar, Eu jogo pérolas pra quem
Pra você, pra ninguém
Que vão cair na lama de onde vêm
Grãos de areia, o Sol se desfaz na concha escura,
Lua cheia,
O tempo se apura
Maré cheia
A doença traz a dor e a cura
E semeia
Grãos de resplendor
Na loucura.

Agora digo eu, jogue Jacaré, joque, pérolas na Vila.
Leila.
Jacaré tem João Guerreiro que, com Machado épico, pega a pérola da Leila e joga no mar da Alemanha em :
FALENASPRELÚDIO
...land of dreams.
... land of song.
LONGFELLOW
LEMBRA-TE a ingênua moça, imagem da poesia,
Que a André Roswein amou, e que implorava um dia,
Como infalível cura à sua mágoa estranha,
Uma simples jornada às terras da Alemanha?
o poeta é assim: tem, para a dor e o tédio,
Um refúgio tranqüilo, um suave remédio:
És tu, casta poesia, ó terra pura e santa!
Quando a alma padece, a lira exorta e canta;
E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte,
Cada lágrima nossa em pérola converte.
Longe daquele asilo, o espírito se abate;
A existência parece um frívolo combate,
Um eterno ansiar por bens que o tempo leva,
Flor que resvala ao mar, luz que se esvai na treva,
Pelejas sem ardor, vitórias sem conquista!
Mas, quando o nosso olhar os páramos avista
Onde o peito respira o ar sereno e agreste,
Transforma-se o viver. Então, à voz celeste,
Acalma-se a tristeza; a dor se abranda e cala;
Canta a alma e suspira- o amor vem resgatá-la;
O amor, gota de luz do olhar de Deus caída,
Rosa branca do céu, perfume, alento, vida.
Palpita o coração já crente, já desperto;
Fala dentro de nós uma boca invisível;
Esquece-se o real e palpa-se o impossível.
A outra terra era má, o meu país é este;
Este o meu céu azul.
Se um dia padeceste
Aquela dor profunda, aquele ansiar sem termo
Que leva ao tédio e a morte ao coração enfermo;
Se queres mão que enxugue as lágrimas austeras,
Se te apraz ir viver de eternas primaveras,
Ó alma de poeta, ó alma de harmonia,
Volve às terras da musa, às terras da poesia!
Tens, para atravessar a azul imensidade,
Duas asas do céu: a esperança e a saudade.
Uma vem do passado, outra cai do futuro;
Com elas voa a alma e paira no éter puro,
Com elas vai curar a sua mágoa estranha.
A terra da poesia é a nossa Alemanha.
Jacaré canta com Machado de Assis o sentido sacana das
Falenas
Ariadne Asleep on the Island of Naxos, obra de
John Vanderlyn