quarta-feira, 14 de julho de 2010

Paulo Moura não passou, não passará: virou pássaro alvissareiro... para todos e para sempre.

Essa escrita, de 13 de julho de 2010, do título é de André Vallias e está na belíssima página do Paulo Moura com um fundo musical que nos leva ao choro da saudade e do chorinho musical que fica com a gente.

Paulo Moura (1932–2010)

Uma forte rajada sobre a cidade do Rio de Janeiro anunciava à noite o desfecho de uma lenta agonia...

No sábado, dia 10 de julho, Paulo Moura ainda conseguiu reunir forças para tocar uma última música – "Doce de Côco", de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho – com seu parceiro de longa data Wagner Tiso, ao lado de sua mulher Halina, o filho Domingos, o sobrinho Gabriel, amigos e admiradores, e alguns pacientes da Clínica São Vicente, maravilhados com aquela inusitada e comovente celebração musical, organizada pelos músicos Cliff Korman e Humberto Araújo.

Uma réstia de sol fazia da exuberante folhagem de jaqueiras um cintilante cenário para a varanda do hospital. O maestro, sereno e sorridente, vestia uma camisa azul e cobria as pernas inchadas e inertes com um manto púpura.
Lembrei-me da última estrofe de um poema que lhe dediquei alguns anos atrás, homenagem diminuta e insuficiente frente à imensa alegria que sua música me proporcionara e ao doce convívio que tive o privilégio de gozar:

mistura e manda
o maestro
pra lá
das bandas
do rio
preto:
aéreo conduz
e sopra
por onde zoar
o pássaro azul
púrpura

Ele se foi na calada da noite, sua memória, no entanto, não há de se calar jamais em nossos corações e ouvidos. Paulo Moura não passou, não passará: virou pássaro alvissareiro... para todos e para sempre.

André Vallias
Rio, 13 de julho de 2010

Um comentário:

  1. Ontem, como diria Guimarães Rosa, na “viração” da tarde o ar estava morno e os pássaros inquietos, vinha andando pela rua e vi um pequeno redemoinho de folhas num canto da calçada. Não sabia da morte de Paulo Moura e ouvia “falando de amor”. Mais tarde já sabendo, cantei bem baixinho: Quando passas, tão bonito, nessa rua banhada de Sol, minha alma segue aflita, eu me esqueço até do futebol...

    Obrigada, Paulo Moura!
    Leila Sales

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