Jacaré foi ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro assuntar sobre a chegada do outono

além das folhas caídas, encontrou-se com amigos do
Jardim Botânico que lhe recitaram um soneto do sec XVIIIQuem viu alguma vez um grande carvalho seco,
Que como adorno algum troféu comporta,
Erguer ainda ao céu a sua velha cabeça morta,
Cujo pé não está firmemente em terra fixado,
Mas que, sobre o campo mais do que meio inclinado,
Mostra os seus braços todos nus e a sua raíz torta,
E, sem folhas que dê sombra, o seu peso suporta
Sobre um tronco nodoso em cem sítios podado;
E, se bem que ao primeiro vento ele deva a sua ruína,
E muito jovem, à sua volta tivesse firme a raiz,
Pelo popular devoto ser o único venerado:
Quem tal carvalho pôde ver, que ele imagine ainda
Como entre os citados, que mais florescem agora,
Este velho símbolo empoeirado é o mais reverenciado.
Joachim Du Bellay, Les Antiquités de Rome
Jacaré pensou, se aqui é outono, no norte é primavera então vamos a ela com Monet

dando seguimento na recepção do outono para amanhã, Jacaré leu J. G. de Araújo Jorge
Outono
O outono já chegou - aos arrufos do vento
as folhas num desmaio embalam-se pelo ar...
- vão caindo... caindo... uma a uma, em desalento
e uma a uma, lentamente, vão no chão pousar...
O céu perdeu o azul - vestiu-se de cinzento
e envolveu na neblina a luz baça do luar...
- na alameda onde vou, de momento a momento,
há um gemido de folha a cair e a expirar...
O arvoredo transpira as carícias dos ninhos,
e o vento a cirandar na curva das estradas
eleva o folhareu no espaço em redemoinhos...
Há um córrego a levar as folhas secas em bando...
- e à aragem que soluça entre as ramas curvadas,
parece que o arvoredo em coro está chorando!...
e dando os trâmites por findos:
um piano no equinócio de outono com Vera Inês em Autumn Leaves
um Nat King Cole, em 1957, no equinócio da primavera
ou Les Feiulles Mortes com Yves Montand
De saída, um vinho na praça, fumando um cigarrinho com o poeta surrealista Jacques Prévert :

Oh! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux oů nous étions amis
En ce temps-la la vie était plus belle,
Et le soleil plus brűlant qu'aujourd'hui
Les feuilles mortes se ramassent a la pelle
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent a la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
C'est une chanson qui nous ressemble
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les feuilles mortes se ramassent a la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidele
Sourit toujours et remercie la vie
Je t'aimais tant, tu étais si jolie,
Comment veux-tu que je t'oublie?
En ce temps-la, la vie était plus belle
Et le soleil plus brűlant qu'aujourd'hui
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais
Toujours, toujours je l'entendrai!