Jacaré entende do riscado e por isso risca do caderno a Quimera que esfuma mas não apaga a Phoenix que nele mora
Risque, assim falaram Nelson Gonçalves e Ary Barroso ao se juntarem à dor do Jacaré, com muita dor de corno
Risque, meu nome do seu caderno
Pois não suporto o inferno
Do nosso amor fracassado
Deixe, que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Matemos nosso passado
Mas, se algum dia, talvez, a saudade apertar
Não se perturbe, afogue a saudade
Nos copos de um bar
Creia, toda a quimera se esfuma
Como a brancura da espuma
Que se desmancha na areia
O bar do Costa fechou as portas para sempre.
Foi a cena vista numa noite de domingo.
Mas Jacaré, mitológico jumguiano, sai a chamar:
- Phoenix ! Fênix !
Jacaré, vendo sua sede desligada, chora, chora, vaga e sussurra uma tristeza : que faço eu da vida sem você ?
E nesse desespero em que eu me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro
Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar
E vejam, a história se repete, mas dessa vez não como farsa.
No fundo do porão do Bar do Costa, aonde morava o Boneco de Noel Rosa, amuleto do Jacaré... lá, quado Noel descansava, um oficial de justiça o tomou das mãos do artista Jorge Crespo
diz-se que naquele porão, nessa hora, ouvia-se esse som meio João Ninguém:
João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar
João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
Crespo olhou p'ra Noel e foi aí que a História se repetiu no encontro de Quincas Berro D'Àgua com Noel Rosa.
Formou-se o Bloco Noturno em busca de um barco, juntado-se Jorge Amado e Gereba cantando o Baião de Quincas
no breu da noite era lua era estrela
no caminho da cais
Berro D'água tropeçou
Assim Noel Rosa e Berro D'Água foram para o Cabaré dar uns beijinhos nas meninas, na Ladeira da Montanha onde mora Castro Alves.
No Cabaré, pela primeira vez, Quincas arrumou briga ao esticar a perna e derrubar uma dama.
Noel pacificou e foram para o mar, dessa vez com Caymmi acalentando que é doce morrer no mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza prá mim
Saveiro voltou sozinho
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza prá mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi prá mim
É doce morrer...
É doce morrer...
Saveiro partiu de noite foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou
É doce morrer...
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou
É doce morrer...
Nas ondas verdes do mar meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
É doce morrer..
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
É doce morrer..
Mas não se enganem não, Jacaré é Phoenix e convida todos a voar o vôo da águia amiga da raposa com sete cantigas p'ra voar
Cantiga de roça
De um cego apaixonado
Cantiga de moça
Lé do cercado
Que canta a fauna e a flora
E ninguém ignora
Se ela quer brotar
Bota uma flor no cabelo
Com alegria e zelo
Para não secar
Voa, voa no ar...
Cantiga de ninar
A criança na rede
Mentira de água
É matar a sede:
Diz pra mãe que eu fui para o açude
Fui pescar um peixe
Isso eu num fui não
Tava era com um namorado
Pra alegria e festa
Do meu coração
Voa, voa, azulão...
E se a gente quiser ele vai voltar
Na volta passar por Itapoã com Gil e Toquinho
Abre uma cachaça de rolha,
assim falou Jacaré
assim falou Jacaré
Não há nada que me deixe mais triste e ao mesmo tempo questionando tantas coisas que acreditei e acredito. Do que estou falando?
ResponderExcluirDa prisão de Genuíno. Nunca mais esqueço quando vi uma foto dele amarrado à uma árvore, preso que foi na guerrilha do Araguaia. Talvez eu seja ingênua, mas está sendo muito difícil aceitar sua condenação e prisão.
Leila Sales.
*fugindo um pouco da tônica do blog.
Leila
ResponderExcluirFujo também a finalidade do blog e junto-me a você na tristeza por Genuíno torturado pela segunda vez e também dessa vez vítima da mídia reacionária e corrupta aliada do torturador do Araguaia : major curió.
Estou de luto e com força para continuar a lutar.
Sergio Rosa
Anônimo disse...
ResponderExcluirLá vai um poema do Thiago de Mello pra vcs. dois: Genoíno e Sergio, porque sempre vale a pena lutar:
Escrevo esta canção porque é preciso
Se não escrevo, falho com o pacto
Que tenho abertamente com a vida.
E é preciso fazer alguma coisa
Para ajudar o homem.
Mas agora.
Apesar do próprio homem, ainda é tempo.
É tempo.
Leila Sales.
18 de novembro de 2013 20:55